A perspectiva sociointeracionista


6. A perspectiva sociointeracionista

        Nesta visão interacionista cabem análises de grande relevância que se dedicam a perceber as diversidades das formas textuais produzidas em co-autoria (conversações) e formas textuais em monoautoria (monólogos), que até certo ponto determinam as preferências básicas numa das perspectivas da relação fala e escrita.

fala e escrita apresentam
dialogicidade
usos estratégicos
funções interacionais
envolvimento
negociação
situacionalidade
coerência
dinamicidade

Essa perspectiva tem a vantagem de perceber com maior clareza a língua como fenômeno interativo e dinâmico, voltado para as atividades dialógicas que marcam as características mais salientes da fala, tais como as estratégias de formulação em tempo real.

A perspectiva variacionista


5. A perspectiva variacionista

        Nessa perspectiva, não são feitas divisões dicotômicas ou caracterizações estanques, verifica-se a preocupação com regularidades e variações. A língua é observada com rigor metodológico que ambos os casos anteriores. Mas, de certo modo nessa tendência podem-se construir as distinções a seguir:

fala e escrita apresentam

língua padrão
variedades não-padrão
língua culta
língua coloquial
norma padrão
normas não-padrão

        Não são feitas distinções entre fala e escrita, e sim uma observação de variedades linguísticas distintas.

Visão culturalista


4. Visão culturalista

        Nessa visão, o propósito era identificar as mudanças operadas nas sociedades em que se introduziu o sistema da escrita.

cultura oral
versus
cultura letrada
pensamento concreto
pensamento abstrato
raciocínio prático
raciocínio lógico
atividade artesanal
atividade tecnológica
cultivo da tradição
inovação constante
ritualismo

analiticidade

        A escrita trouxe muitas vantagens e consideráveis avanços para as sociedades que a adotaram. Por isso tornou-se tão relevante e quase imprescindível na vida contemporânea.

A perspectiva das dicotomias


3. A perspectiva das dicotomias

        É a partir na norma culta que conhecemos as dicotomias que dividem a língua escrita e a língua falada em dois blocos distintos com propriedades típicas, como podemos ver abaixo:

fala
versus
        escrita
contextualizada
 descontextualizada
 dependente
autônoma
implícita
explícita
redundante
condensada
não-planejada
planejada
imprecisa
precisa
não-normatizada
normatizada
fragmentária

completa

        A perspectiva da dicotomia estrita considera a fala como o lugar do erro e caos gramatical, tomando a escrita como lugar da norma e do bom uso da língua. Essa visão é inconveniente e deve ser rejeitada.

Oralidade versus letramento ou fala versus escrita?


2. Oralidade versus letramento ou fala versus escrita?

        Enquanto oralidade e letramento tratam-se de uma distinção entre práticas sociais, fala e escrita são uma distinção entra modalidades de uso da língua.
        A oralidade seria uma prática social interativa para fins comunicativos que se apresenta sob variadas formas ou gêneros textuais fundados na realidade sonora; ela vai desde uma realização mais formal nos mais variados contextos de uso.
        O letramento, por sua vez, envolve as mais diversas práticas da escrita na sociedade e pode ir desde uma apropriação mínima da escrita, tal como o indivíduo que é analfabeto, mas letrado na medida em que identifica o valor do dinheiro, o ônibus que deve tomar, consegue fazer cálculos complexos, sabe distinguir as mercadorias pela marca etc; mas, não escreve cartas nem lê jornal regularmente, até uma apropriação profunda, como no caso do indivíduo que desenvolve tratados de Filosofia e Matemática ou escreve romances. Letrado é o indivíduo que participa de forma significativa de eventos de letramento e não aquele que faz apenas o uso formal da escrita.
     A fala seria uma forma de produção textual-discursiva para fins comunicativos na modalidade oral, sem a necessidade de uma tecnologia além do aparato disponível pelo próprio ser humano. Envolve uma série de recursos expressivos de outra ordem, tal como a gestualidade, os movimentos do corpo e a mímica.
    A escrita seria um modo de produção textual-discursiva para fins comunicativos com certas especificidades materiais e se caracterizaria Por sua constituição gráfica. Trata-se de uma modalidade de uso da língua complementar à fala.

Oralidade e Letramento como práticas sociais


Oralidade e Letramento

1. Oralidade e Letramento como práticas sociais
        É preciso observar, que a oralidade e o letramento são duas práticas na sociedade contemporânea. Na investigação dessas duas variedades, foi possível constatar que é impossível desvinculá-las, sem uma referência direta ao papel que desempenham nas práticas sociais, se a distribuição de seus usos no cotidiano não for considerada, uma vez que o tratamento de suas relações centra-se exclusivamente no código.
        A oralidade e o letramento possuem características próprias, mas que não são opostas o suficiente para caracterizá-las como dicotômicas, ou seja, diferentes. No entanto, elas devem ser vistas como atividades interativas e complementares no contexto das práticas de usos comunicativos e de gêneros textuais sociais e culturais, sendo que seus objetivos de uso se apresentam de uma forma diversa e com intensidades variadas em contextos sociais básicos, como por exemplo, no dia-a-dia, no trabalho, na família, na escola, na vida burocrática e em atividades intelectuais.
        Assim, não são primeiramente as regras da língua que merecem atenção, e sim, os usos da língua, já que é a variação linguística que determina e permite uma escolha de gênero em todas as situações do uso da língua.
        Sob o ponto de vista mais central da realidade humana, seria possível definir o homem como um ser que fala e não como um ser que escreve. Entretanto isso não significa que a oralidade seja superior à escrita, nem traduz a convicção de que a fala é primária e a escrita é derivada. Portanto, a escrita não pode ser tida como uma representação da fala.
        Enfim, a língua, seja na sua modalidade escrita ou falada, reflete, em boa medida, a organização da sociedade. E, uma não deve ser mais privilegiada que a outra, as duas possuem suas próprias características, mas não devem ser consideradas diferentes, pois oralidade e escrita são duas práticas sociais e não duas propriedades de sociedades diversas.